Sangue

Sangue 



O sangue é um tipo de tecido conjuntivo que é constituído por uma variedade de células suspensas num meio líquido, chamado plasma. O plasma é uma solução aquosa que é constantemente trocada com o líquido extracelular de variados tecidos. É composto de água , proteínas plasmáticas (10%), sais inorgânicos (0,9%) e o restante é formado por compostos orgânicos diversos (aminoácidos, vitaminas, hormônios e glicose).  
Foto: escolakids.com
O sangue funciona como um veículo de transporte de gases, nutrientes, produtos, metabólicos de excreção, células e hormônios pelo corpo todo, também tem função na regulação de calor, equilíbrio ácido-básico e equilíbrio osmótico. O volume total de sangue em uma pessoa normal é aproximadamente 7% do peso do indivíduo. As células que estão suspensas no plasma são chamadas de glóbulos sanguíneos que são divididos em eritrócitos (Glóbulos vermelhos), leucócitos (Glóbulos brancos) e plaquetas (trombócitos).  


Eritrócitos ou Hemácias

Os eritrócitos estão envolvidos principalmente no transporte de oxigênio e dióxido de carbono e funcionam exclusivamente dentro do sistema vascular.




Os eritrócitos também chamados de hemácias ou glóbulos vermelhos são células anucleadas que contém uma grande quantidade de hemoglobina (proteína transportadora de O2), possuem uma forma de disco bicôncavo e quando suspensos em soluções isotônica medem cercam de 7,5 μm de diâmetro, com 2,6 μm de espessura, este também possui uma membrana plasmática externa contendo hemoglobina e o número limitado de enzimas necessárias à manutenção da integridade da membrana plasmática e das funções do transporte de gases.
Durante a maturação na medula óssea , o eritrócito perde o núcleo e as outras organelas, assim, este não pode renovar suas moléculas e depois de 120 dias (geralmente)  acontece a sua digestão pelos macrófagos.

Leucócitos

Os leucócitos também conhecidos como glóbulos brancos fazem um papel importantíssimo nos sistemas de defesa e imunitário do corpo e ao contrário dos eritrócitos estes atuam sobretudo fora dos vasos sanguíneos.
Quando os tecidos são invadidos por micro-organismos os leucócitos são atraídos por quimiotaxia (processo de atração de células em direção a um gradiente químico).
Existem 5 tipos de células brancas: Neutrófilos, Eosinófilos, Basófilos, Linfócitos e os  Monócitos e elas podem ser divididas em dois grupos, os granulócitos (Neutrófilos, basófilos e eosinófilos)  e os agranulócitos (linfócitos e monócitos).

Foto: mundoeducação.com


Neutrófilos 

Os neutrófilos são os leucócitos que aparecem em maior quantidade no esfregaço de sangue normal cerca de 60 a 70% deles, eles também podem ser chamados de polimorfonucleares porque apresentam o núcleo lobulado em até 5 lóbulos, quanto mais maduro mais lóbulos são observados. 



O neutrófilo é uma célula em estágio final de diferenciação, realizando uma síntese proteica muito limitada. Apresenta poucos perfis do retículo endoplasmático rugoso, raros ribossomos livres, poucas mitocôndrias e complexo de Golgi rudimentar.

O neutrófilo pode fazer fagocitose, porém não possui pseudópodes, então a atividade fagocitária desse se dá por invaginações. Essa célula predomina em infecções, por ser o mais abundante e por conseguir fazer a diapedese. A diapedese é movimento que o neutrófilo faz para escapar da circulação sanguínea para chegar ao tecido conjuntivo. Os seus grânulos são muito importantes nas infecções e são divididos em dois tipos:

Azurofílico primário:

Foto: Mateus Marques
  • Lisozima – É uma enzima que degrada parede celular bacteriana, é encontrada também na lágrima e na saliva.
  • Enzimas hidrolíticas – Moléculas que fazem a hidrólise, desfaz o equilíbrio osmótico.
  • Mieloperoxidase – É uma enzima que degrada água oxigenada ou peroxido de hidrogênio (H2O2), quando quebrada é formada Água (H2O) e oxigênio (O2), para eliminar os patógenos por impacto ou matar as bactérias anaeróbias.


Azurofílico Secundário:
  •  Colagenase – Enzima que quebra colágeno que estão presentes no tecido conjuntivo. Essa enzima é necessária para o neutrófilo conseguir se deslocar no tecido conjuntivo em busca do patógeno.
  • Lactoferrina – Se associa ao ferro livre e deixa a bactéria que tem grande necessidade por esse composto com fome. 




Monócito e o seu núcleo em forma de rim 


Foto: Mateus Marques
Morfologicamente são células grandes (até 20 μm de diâmetro), possuem um núcleo em forma de rim, o citoplasma é abundante e não possuem grânulos. (3-12% dos leucócitos). Eles têm origem na medula óssea e são chamados de monócitos quando estão na circulação sanguínea e quando passam para o tecido conjuntivo se diferenciam em macrófagos.

Quando transformados em macrófagos a sua morfologia muda, o núcleo já não tem forma de rim e a membrana apresenta expansões chamadas de pseudópodes que serão responsáveis pela fagocitose.

Os monócitos têm origem das células tronco hematopoiéticas encontradas na medula óssea. Ele sai do vaso e se diferencia em macrófago, colaborando para a eliminação de um patógeno fora da circulação sanguínea e dentro dos tecidos. Os macrófagos podem apresentar nomes diferentes dependendo do tipo de tecido que se está alojado. Se este está no S.N.C ele é chamado agora de célula microglial, se está presente no fígado é chamado de célula de kupffer, se estiver no pulmão será chamado de  macrófago alveolar, se estiver no baço se chamará de macrófago esplênico ou macrófago sinusoidal.

Tanto o macrófago quanto o monócito têm como principal função a fagocitose, podendo sofrer  esse tipo de ação (bactérias, células velhas (hemocaterese), células defeituosas, vírus).
Obs: Os macrófagos podem liberar alguns tipos de citocinas muito importantes para a resposta inflamatória, tais como, TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-8. Essa informação pode ser muito útil em suas aulas de imunologia. 

Aplicação Médica
O aumento no número de monócitos circulantes denomina-se monocitose e pode sinalizar uma doença hematológica (como por exemplo a leucemia), infecção causada por aluns tipos de bactérias e parasitas ou doença auto-imune. A diminuição de monócitos circulantes, denominada monocitopenia, é raramente observada, podendo ser ocasionada pelo tratamento com corticosteroides.
                 
                                            Basófilo? Cadê? 

Onde está o basófilo?
Foto: Mateus Marques


É a pergunta que a maioria dos estudantes de Histologia se faz quando se deparam com uma lâmina de esfregaço de sangue. Os Basófilos constituem menos de 2% dos leucócitos do sangue e, por isso, são difíceis de se encontrar nos esfregaços. A principal função deste leucócito é a liberação de histamina, portanto, ao chegar ao local da infecção a histamina é liberada e provocará vasodilatação, facilitado a diapedese ( passagem de células sanguíneas através das paredes dos capilares) dos leucócitos.


Como encontrar um basófilo em uma lâmina de esfregaço de sangue? 

Como os basófilos são bem infrequentes nas lâminas de esfregaço sanguíneo pode te dar um certo trabalho para encontra-los, eles apresentam um citoplasma claro, geralmente o núcleo com dois lobos e grânulos com a coloração azul escura intensa com a presença de Histamina, Heparina, ECF entre outros.  

  • Heparina – Substância anticoagulante natural. 
  • Histamina - É um potente vasodilatador liberado em certos tecidos como resultado da hipersensibilidade alérgica ou inflamação.
  • ECF (fator quimiotático para eosinófilos) - Esse fator atrairá eosinófilos, pois eles possuem histaminases, a histaminase será muito importante para manter o equilíbrio da dilatação.
Aplicação Médica

O aumento do número de basófilos no sangue é raro e denomina-se basófilia. Esta pode ocorrer devido a uma doença hematológica, como por exemplo a leucemia ou algum tipo de alergia. Pode também estar associada ao hipotiroidismo ou doença renal.
Eosinófilo

Os eosinófilos perfazem cerca de 1 a 3% dos leucócitos no sangue circulante. Estes permanecem na medula óssea por vários dias após a sua produção, então circulam de 3 a 8 horas; a maioria então entra na pele, nas mucosas pulmonares, gastrointestinais, de onde podem migrar para dentro das secreções locais. O destino e o tempo de vida de um eosinófilo não são conhecidos. 

Foto: Mateus Marques
Os eosinófilos também conseguem fazer diapedese. São os leucócitos mais requisitados em infecções parasitárias principalmente contra helmintos. Os helmintos são parasitas grandes, por isso não são fagocitados, os eosinófilos então fazem digestão destes fora do citoplasma (exocitose) jogando os seus grânulos. Os seus grânulos principais são: 

Grânulos Cristalóides – Possuem a toxina Proteína Básica Principal (PBP) essa toxina desfaz a organização da membrana dos helmintos. 

Vesículas contendo mediadores: Histaminase – Enzima que limita a vasodilatação provocada pela histamina.


O eosinófilo (12 μm a 15 μm de diâmetro) é maior que o neutrófilo e é facilmente reconhecido pelos seus grânulos específicos que se coram em vermelho brilhante pela eosina e em vermelho tijolo pelo método de Romanowsky. Seu núcleo geralmente é bilobulado. 


Aplicação Médica

Os eosinófilos fagocitam e digerem complexos de antígenos, com anticorpos que aparecem em casos de alergia, como a asma brônquica, por exemplo. Experimentalmente foi observado que o eosinófilo não fagocita soro-albumina bovina (antígeno) nem seu anticorpo (gamaglobulina específica) isoladamente. Todavia, o eosinófilo fagocita o complexo desse antígeno com o seu anticorpo. Esses granulócitos são atraídos para as áreas de inflamação alérgica pela histamina, produzida principalmente por basófilos e mastócitos. Ali chegando, promovem a desgranulação nestas células e liberam mediadores inflamatórios. 

Níveis elevados de proteínas provenientes dos grânulos eosinofílicos são encontrados no fluido bronquioalveolar de pacientes asmáticos. Principalmente devido ao seu papel na desgranulação dos mastócitos e basófilos e pela liberação de citosina, acredita-se que o eosinófilo desempenhe um papel importante na patogênese da asma. 


Os eosinófilos não são células especializadas para a fagocitose de microorganismos. Sua atividade defensiva é realizada pela liberação seletiva do conteúdo de seus grânulos para o meio extracelular e pela fagocitose e destruição de complexos antígeno anticorpo.


Linfócito

São células pequenas, núcleo esférico, pouco citoplasma e consistem de 20-35% dos leucócitos circulantes. Morfologicamente são idênticos, mas individualmente apresentam diferenças conforme seu estado de ativação.

Foto: Mateus Marques
Linfócito B

Os linfócitos B são os principais mediadores da imunidade humoral, ou seja são células importantíssimas para combater antígenos que estão circulando fora das células. Essas células têm seu processo de maturação na medula óssea que é considerada um órgão linfoide primário. O plasmócito é a configuração de linfócito B que secreta anticorpo, isso quando é ativado pelo linfócito T auxiliar (T-CD4) ou entra em contato com um antígeno.
Os anticorpos são secretados na circulação e no líquido das mucosas neutralizando e eliminando os micro-organismos e as toxinas microbianas que estão fora das células. Os anticorpos têm a função de impedir que patógenos colonizem as células e os tecidos conjuntivos do hospedeiro.


Linfócitos T
   
Os linfócitos T são os principais mediadores da imunidade adquirida celular, estes conseguem detectar antígenos produzidos por micro-organismos inseridos dentro das células.

Linfócito T Auxiliar (T helper) (TCD4)

Os linfócitos T auxiliares reconhecem antígenos na superfície das células apresentadora de antígeno (ex. Célula dendrítica)  e secretam citocinas, essas citocinas irão estimular as células fagocitárias e as células B se ativarem. O vírus da AIDS afeta justamente essas células, causando assim um comprometimento do sistema imune.

Linfócito T regulador (TCD4)

Algumas (TCD4) pertencem a uma subclasse especial que servem para prevenir ou limitar a resposta imune. Ex: Depois de acabar com os patógenos presentes no corpo, as células ainda continuam ativadas, para que elas voltem ao seu estado normal é necessário a intervenção do linfócito T regulador.

Linfócito T Citotóxico (TCD8)

Esses linfócitos causam lise nas células infectadas por micro-organismos intracelulares. Eles conseguem detectar antígenos nas células infectadas e assim causam a morte desta. Possuem receptores altamente específicos e muito diversos, sendo assim da imunidade adquirida.

Célula NK (Natural killer’s)

As células NK são linfócitos considerados elementos da imunidade inata porque possuem receptores com baixa especificidade e pouco variável. São linfócitos grandes 20-50µm com o citoplasma granular e que tem como principal função a indução da célula com problema a apoptose. A diferença morfológica das células T citotóxicas para as células NK é o tamanho. A célula NK é maior, possui grânulos, mais citoplasma. A diferença funcional é que a célula NK possui receptores pouco específicos por isso é alocada na imunidade inata.


Plaquetas

As plaquetas desempenham um papel vital no controle da homeostasia (sangramento), ao taparem os defeitos das paredes dos vasos sanguíneos e contribuírem para a ativação da cascata de coagulação sanguínea.
   

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As plaquetas são corpúsculos anucleados, com forma de disco medindo cerca de 2-4μm de diâmetro e são derivadas de células gigantes chamadas de megacariócitos. Normalmente existem 150.000 a 400.000 plaquetas por microlitro de sangue e elas permanecem no sangue por aproximadamente 10 dias.                                                                                                                                                                              
Hemopoiese

Hemopoiese é o processo de formação, desenvolvimento e maturação dos glóbulos sanguíneos (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) a partir de um precursor celular comum e indiferenciado conhecido como célula hematopoiética pluripotente,  hemocitoblasto ou célula-tronco.



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Escrito por: Mateus Marques


Referências bibliográficas

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

YOUNG, B.; LOWE, J. S.; STEVENS, A. Wheater´s: Histologia Funcional: Texto e Atlas em Cores. Editora Elsevier. 2007.

ABBAS, A. K., Lichtman, A. H. Imunologia Celular e Molecular, 5º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.


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